segunda-feira, 17 de junho de 2013

No Coração das Américas

Esta semana o escolhido foi um livro de viagens, pelo menos é nessa secção da livraria que ele se encontra à venda.


Só pra abrir o apetite um pouco sobre o seu autor.
Jamel Balhi nasceu em Lyon em 1963 e cedo se lançou no mundo da corrida alcançando marcas de 2h20 na maratona. Contudo, foi nas grandes viagens que mais se destacou. Foi o primeiro homem a dar a volta ao mundo a correr sem qualquer tipo de assistência, entrando para o guinness book. Fez as corridas mais longas de que há historia. Como embaixador da UNESCO e fotojornalista, Jamel dá-nos a conhecer o outro lado dos países por onde passa, a vida tal e qual ela é...
Neste livro, que penso ser o único publicado em Portugal, Jamel Balhi corre 24000 Km de Anchorage no Alasca até Ushuaia na terra do fogo na Argentina. Iniciou esta aventura em Abril de 2000 e terminou no final de 2001. O Livro é posteriormente publicado em 2003 e sai em Portugal no final de 2004.


Confesso que no início antes de começar a ler e até mesmo durante as primeiras páginas, senti uma certa desconfiança sobre a veracidade dos factos, como é possível alguém correr tal distância.... Mas à medida que me vou deixando levar pela leitura descubro outro mundo, outra maneira de ver e viver a vida.

Jamel Balhi fez uma travessia de 24000 Km em ano e meio, uma média de  uma maratona por dia. ESPERA AI, uma Maratona por dia???? durante ano e meio??? mas existe um senhor que fez 50 em 50 dias e é um herói por todo o lado, como é possível que ninguém conheça este Jamel Balhi, que uma simples busca no google tenha meia dúzia de resultados dignos de se ver, e que a página do senhor no facebook só tenha pouco mais de 250 likes???? RESPOSTA: $$$$ dinheiro, muito dinheiro... Enfim não é que um seja melhor que o outro, simplesmente são mundos diferentes. Jamel faz esta viagem da maneira mais humilde que é possível, a pé, a correr, e sem qualquer pretensão de fama ou gloria.

Bem, tirando este pequeno à parte, como ia a dizer, este senhor fez esta travessia pelos países mais perigosos do mundo sem qualquer tipo de assistência, apenas a sua força de vontade e as suas pernas como meio de transporte. Jamel em determinada parte diz que não é um turista, mas sim um viajante, e a verdade é que em momento algum durante a viagem é confundido com um turista.
"Não aprecio nada o espírito gregário destes guias, (guias de viagem) sobretudo porque ele é movido por fins comerciais. Estes manuais balizam e banalizam a estrada; condicionam a actividade de milhões de viajantes no mundo inteiro, que são todos indistintamente classificados como turistas, pois não há turismo sem uma lógica de consumo...Turismo = transporte + visita + restaurante + alojamento... as minhas pernas são o meu guidebook:"
Desde o país mais rico do mundo aos mais pobres a atitude e a maneira de encarar as coisas é sempre a mesma, apesar dos contrastes a visão do autor é sempre contagiante.

Pouco depois de atravessar a fronteira dos EUA com o México:
"Vejo muitas cores, mas aqui as cores rimam com odores. Policias a bordo de Volkswagens carocha brancos, com sirene e farol giratório. As mijadelas na margem da estrada já não são passíveis de infracção. Os autocarros são arredondados à frente e atrás, como supositórios. Nas bancas de frutos e legumes encontro, com satisfação, tomates irregulares e deformados, cheios de sumo e todos diferentes, contrariamente àqueles dos supermercados do norte, sem sabor e todos idênticos, pois foram calibrados segundo normas comerciais."

Durante a viagem Jamel passa pelas mais adversas condições meteorológicas, desde temperaturas abaixo de 0º C com ventos glaciares, até desertos secos com temperaturas a rondar os 50º C em que consome mais de 12 litros de água por dia e a bebida energética mais consumida no mundo inteiro, a Coca-cola...
A uma média de 12km/h com tiradas de mais ou menos 60/70 kms por dia Jamel Balhi gastou, "treze pares de sapatinhas e vinte e sete sapateiros para uma corrida de 24 127 quilómetros."

Para mim este livro é uma aventura a correr, um livro para ler e reler, que nós dá algumas luzes sobre o outro lado do mundo e nos mostra como a correr se pode conhecer esse mundo.

" Existem milhares de modos de viajar e eu escolho o modo mais livre que existe, desprezando a organização. Escolhi voluntariamente ser não organizado. Nada do que vivo diariamente foi previamente organizado, se bem que cada metro percorrido seja uma descoberta. Eu agarro na vida, esfrego-a, torço-a e mergulho-a, por vezes nas misturas mais corrosivas, depois enxugo-a, retorço-a, passo-a por água limpa estendo-a ao sol para a secar. Para a voltar a sujar logo de seguida. A vida mostra-me todas as suas cores, e aprendo com ela tudo o que os homens devem saber sobre a sua existência: o conhecimento, o respeito e a tolerância. À força das provações da resistência, a vida faz de todos os que a desafiam seres endurecidos, sempre prontos a lançar-se de novo nas garras da existência. A vida deu um sentido à minha vida. A vida é formidável, quando sabemos servir-nos dela, usá-la bocadinho por bocadinho, e por de lado velhas feridas. Ela é ainda mais bela quando a vivemos nós mesmos. Mas atenção, a vida só se pode utilizar uma única vez!"

Fica-se com vontade de fazer uma pequena viagem ao estilo de Jamel Balhi, mas falta a coragem para enfrentar todas as adversidades que tal aventura acarreta.

Só por curiosidade, Jamel Balhi tem mais 5 livros editados mas nenhum em português, só em francês, por isso nem me aventuro a tentar ler...

Até já, boas corridas!



14 comentários:

  1. Obrigado pela partilha! Desconhecia este título. Vou tentar encontrar o livro e dar uma olhadela.

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    1. Fazes muito bem Sílvio Horta, é fácil encontra-lo em qualquer livraria.
      Até já!

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  2. Obrigada pela dica. É o tipo de livro que gosto.
    Vou lê-lo.

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    1. Run Baby Run, vais gostar de certeza. Boas leituras e boas corridas.

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  3. Ainda um dia destes falava com alguém sobre "correr o mundo". Parece um livro interessante, que alia duas das minhas paixões: viagens e corrida.
    Obrigada pela partilha!

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    1. Este amigo tem realmente todo um espírito de viagem e aventura, aliado claro está à corrida.
      Boas corridas, até já!

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  4. Nunca tinah ouvido falar dele. Mas também é a prova que por vezes os garndes feitos passam despercebidos da maioria. Do texto, fica a dúvida: o que são «sapatinhas» e «sapateiros»? ;)
    Por acaso não sei se o espanhol Ricardo Abad já tem a sua vida publicada em livro, até porque ele ainda continua a somar conquistas colossais ao seu curriculum. Mas fica a nota que o Ricardo Abad Martínez, com 42, ficou famoso por completar 500 maratonas em 500 dias seguidas. Com mais um pormenor: ele trabalha por turnos numa fábrica e teve de executar as provas com essa limitação, o que fez com que algumas maratonas tivessem menos de 12h a separá-las. Fantástico? Ainda há mais. Este senhor, que deve ter articulações de titânio, não satisfeito com esse enorme feito, lançou-se agora a fazer 52 Ironman em 52 semanas, ou seja, num determinado dia de cada semana do ano, ele vai nadar 3,8Km, pedalar 180Km e correr 42Km. Podem ver aqui o site dele. Neste momento ele já vai com 24 Ironman. Neste último, ele lá fez as 153 piscinas em 1h 13m, saltou para a bicicleta e pedalou 6h 46m para vencer os 180Km que tinham quase 2800m de subida acumulada, e depois, com muito calor, fez os 42Km da praxe em 4h 39m, o que deu um total de 13h 10m.
    Há tipos assim, que nos fazem sentir minúsculos quando comparamos os nossos feitos desportivos, mas que nos dão uma força enorme para tentar ir sempre mais além

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    1. Muito bom Luís, já dei uma vista de olhos e parece-me muito bom mesmo, pena não existir mais divulgação e publicidade a estes verdadeiros super atletas. Quanto à duvida, só mesmo lendo o livro pra ficar esclarecida...Bons treinos!

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  5. Não sou corredora,mas gostaria de me aventurar nesse mundo que parece tão fascinante, adorei o blog e serei presença constante. Belos resumos, boas indicações de leituras.
    Até breve.

    Ro

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    1. Muito obrigado pela visita e pelo comentário. É fascinante com certeza, para além de mil e um benefícios
      que podemos ter ao correr. Até já!

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  6. Também gostei muito deste livro e na altura publiquei um post sobre o mesmo.
    http://kmepalavras.com/2011/03/14/jamel-balhi-corredor-do-mundo/
    Entretanto fui descobrindo mais alguns atletas com projectos absolutamente incríveis e que vale a pena conhecer, alguns com livros publicados sobre o tema.
    http://kmepalavras.com/2011/02/19/o-incrivel-desafio-de-serge-girard/
    http://kmepalavras.com/2011/02/13/stefaan-engels-parte-2/
    http://kmepalavras.com/2011/10/04/500500/

    Boas corridas.

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    1. Muito obrigado pelas sugestões PauloL. Vamos passar a segui-lo com mais atenção.
      Boas corridas!

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