sexta-feira, 12 de agosto de 2016

UTRP




Começo este novo post por relembrar um treino que eu e ela fizemos à mais ou menos 3 anos, quando ainda ninguém falava da Rocha da Pena como percurso de trail, aqui. Pois é, naquela altura nem nós sabíamos bem o que era o trail, no entanto conhecíamos já alguns dos percursos ali existente e sabíamos que podíamos desfrutar de paisagens únicas.

No ano a seguir, 2014, realizava-se a primeira edição do UTRP. Infelizmente por razões profissionais não pudemos estar presentes. No ano passado ambos participamos no percurso de 25kms.
Este ano como não tinha conseguido completar o Azores Trail Run, arrisquei e apostei tudo no percurso de 50 kms. A Tânia como tem andado afastada dos treinos apenas decidiu participar porque tinha ganho a inscrição, e então decide ir apenas para acompanhar a Rita nos 25kms.


A Organização da prova gaba-se de ser o trail mais quente do ano e parece que na primeira edição estava realmente muito calor, mas o ano passado a verdade é que nem parecia um dia de verão. Resultado...? Este ano vingaram-se e parece que requisitaram o sol por um dia para nos ferver os miolos! Foi simplesmente o dia mais quente do ano, noticiavam os telejornais no dia a seguir.


De madrugada

Cinco para as cinco da manhã e o Filipe acorda-me 5 minutos antes dos despertadores começarem a tocar. A sensação que tenho é que ele me acorda imediatamente depois de me deixar dormir. Para quem nunca dormiu num pavilhão cheio de gente nervosa para fazer uma prova, recomendo: Dose extra de paciência, uns bons tampões para os ouvidos e um tapa olhos, e na hora de usar a sanita... sorte, muita sorte para que quem tenha utilizado antes de nós ainda não sofra de Alzheimer e se lembre de puxar o autoclismo, o que nos dias que correm é muito difícil... 
Mas então, tinha acabado de adormecer e acabado de acordar tudo ao mesmo tempo. A partida para a prova dos 50kms era às 7 horas. Era preciso tomar um bom pequeno almoço o quanto antes para dar tempo para fazer a digestão. 

A Partida 

10/15 minutos antes da partida houve um pequeno briefing para dar algumas explicações sobre o percurso e as marcações e para realizarem a verificação do material obrigatório. Dentro da minha mochila levei, 2 litros de água no deposito principal + uma garrafa de água de 33cl que iria igualmente servir como copo para beber nos abastecimentos. 2 géis, 3 barritas e 3 pastilhas de electrólitos. Acabei a prova com as barritas todas e uma pastilha.
Como já tinha dito aqui, o objectivo para esta prova era acima de tudo terminá-la e se possível entre as 7 e as 8 horas. 
Depois do que aconteceu nos Açores estava um pouco a medo e receoso do que poderia acontecer. Apesar de tudo o meu medo principal era os joelhos não aguentarem tanto sobe e desce. Quanto ao calor, sentia que estava preparado, tinha treinado nos últimos dois meses mais para enfrentar o calor do que a distância, o que me valeu umas horas no hospital a fazer soro, por desidratação. Sempre que podia treinava na hora de mais calor, simulei várias vezes o dia da prova com treino a começar às 6 da manhã e a terminarem a meio da manhã. Mas os joelhos de vez em quando davam um ar da sua graça e a partir das 2 horas de treino queixavam-se. 
Por isso a estratégia era fazer os primeiros 20 kms mais calmamente e não forçar muito. Em conversa com o Filipe dizíamos sempre que a prova só começava realmente a partir dos 22kms,  que de início era só para aquecer. E realmente assim foi.

Os primeiros quilómetros de prova são muito brandos tendo em conta tudo aquilo que ainda temos de passar. Para quem faz os 25kms é difícil porque é muito rápido e tem um final duro, mas para quem vai fazer os 50 kms serve apenas de aperitivo, abre o apetite e permite desfrutar das paisagens. 
Nesses primeiros quilómetros desfrutámos ao máximo de todo o ambiente que envolvia a prova. Conversámos bastante, as vistas eram soberbas e as pessoas que encontrávamos bastante simpáticas. Realço o gesto de um senhor que na pequena aldeia da Penina tinha a mangueira ligada para quem se quisesse refrescar, e claro nós tomamos um belo banho...

A "prova"



Eu, Logo nos primeiro kms de prova.

A prova para mim começa aos 22 kms, mais ou menos, quando se passa a EN503. É nesta altura que começa um sobe e desce interminável até mais ou menos aos 40 kms.
Começo a usar os bastões nas subidas e consigo manter um bom ritmo sem que me custe muito subir. Ganho algum animo com a sensação e chego à chamada "subida da morte" num pico de entusiasmo. 
A subida da morte tem a particularidade de ter uma cronometragem à parte com um pódio e prémios próprios,  e assim cria-se um ponto de interesse extra dentro da prova. Todos querem ver que tempo fazem a subir a encosta de 400 metros. 
Quando chego à base da encosta, no início da subida, paro e aproveito para descansar um pouco para ganhar fôlego para a subida. Também eu quero fazer o melhor que conseguir na subida da morte. Os bastões são uma ajuda extra e facilitam bastante a ascensão. Consigo fazer 04:41 minutos, o 13º melhor tempo num total de 247 atletas que fizeram a subida.
O que a organização não explica no regulamento é que a subida da morte é apenas, e só mais uma subida, e que durante o percurso dos 50 kms fazemos várias subidas iguais e até piores, em piores condições, mas mais à frente explico...
A partir dos 30 kms começo a sentir cãibras e tenho que reduzir bastante o ritmo, custa-me particularmente a descer e nas partes do percurso em que corremos dentro de uma ribeira é particularmente doloroso e difícil progredir.  
Mas o problema é quando aos 40 kms de prova temos uma encosta que é, ou pelo menos na altura pareceu-me, mil vezes pior que a subida da morte.
Quem publicita a subida da morte e se esquece de referir aos atletas que depois de fazerem 40kms têm de escalar, esgravatar, trepar, subir, eu sei lá... aquela coisa, é no mínimo sádico. No meio do nada, pouco depois de se sair de dentro da ribeira, numa zona com algumas árvores, começo a ver lá em cima alguns atletas de gatas a esgravatar pedras. A coisa deve ter mais ou menos 400mts mas parecem quilómetros. O piso é de pedra solta, vais a subir  e a tentar evitar levar com as pedras que vão resvalando dos de cima. É qualquer coisa saída de um filme de terror. Acontece que quando tinha 50 metros de subida começo a ficar com muitas cãibras e então não consigo subir nem descer. Subir implica levantar a perna acima do joelho para transpor uma zona de pedra, descer era queda  a resvalar na certa. Então opto por me deitar de costas ( que na subida é quase o mesmo que ficar de pé) e massajo as pernas durante 2 ou 3 minutos para conseguir voltar a subir. Depois de subir tudo aquilo a descida a seguir pareceu-me quase tão difícil como a subida... E finalmente os últimos 10 kms faziam-me lembrar a idade do condor, com dor aqui, com dor ali, tudo me doía.

Abastecimentos

Numa prova com estas condições de calor é necessário e quase obrigatório ir parando em todas as "capelinhas", parecia o rali das tascas no meu tempo de estudante. No percurso, tínhamos um total de 6 postos de abastecimento, espaçados por +/-7 kms nos três primeiros e depois de 10 em 10 kms.
Para além disso existiam pontos em que tínhamos bidons cheios de água com uma esponja onde podíamos literalmente tomar banho. Estes bidons, como ouvi um atleta dizer durante o percurso, davam vida nova a um homem. Permitiam baixar a temperatura e davam uma sensação de alivio quando mais precisávamos. Sem estes pontos de água certamente que seria muito mais penoso terminar a prova.
Quanto aos postos de abastecimento propriamente ditos, tinham tudo o que devem ter. Eu pessoalmente optei sempre pela mesma estratégia, duas ou mais garrafas de água ( a que levava comigo e que servia de copo), uma de coca-cola (experimentei o isotónico e tinha um sabor horrível para o meu paladar), melancia com sal, e uns cubos de banana para levar pelo caminho. Acreditem que a melancia com sal era a melhor coisa. 
Mas o que realmente mais apreciei nos postos de abastecimento foi os voluntários da organização, todos eles de alto nível, como já li nas redes sociais. Todos eles nossos conhecidos das provas regionais. E sendo eles também atletas fazem toda a diferença no apoio ao atleta durante a prova.
Durante a corrida reconheço que vou demasiado focado na prova e absorvido nos meus pensamentos e quase não agradeço o apoio dado por todos eles, mas aproveito aqui para destacar alguns deles.
No 3º posto, o apoio do colega de equipa (COP) Valentim, sempre divertido e prestável, obrigado pela força e incentivo.
No final da subida da morte, em que chego completamente sem fôlego, enquanto enfio a  cabeça dentro do bidon de água e fico agarrado aos joelhos de cabeça baixa alguém vai falando comigo, dando-me água,  refrescando-me, pergunta como estou e diz-me para ir com calma porque ainda há muito para correr, só quando recupero o fôlego e me começo a afastar vejo quem era, o meu muito obrigado Pina! 
No 4º Posto de abastecimento, o que fico mais tempo, sento-me no chão por 10 minutos mais ou menos à espera do Filipe que se tinha atrasado um pouco, aproveito para reabastecer o depósito da mochila pela primeira vez, comer e beber bastante enquanto recupero e descanso um pouco. Uma senhora vai falando comigo, e é ela que me ajuda a abastecer o depósito e me dá comida da mesa enquanto fico no chão, foi simplesmente impecável. Infelizmente não sei o seu nome, sei que estava naquele posto à espera de um familiar que também estava a competir, no entanto não deixou de ir dando auxílio aos atletas que chegavam, muito obrigado!
Depois no 5º posto mais dois atletas conhecidos, neste posto eles sabiam exactamente o que eu estava a precisar, foi a segunda vez que enchi o depósito da mochila. Obrigado pelo apoio e por me alertarem que a coisa, era já a seguir.
No último posto de abastecimento já nem conseguia ficar de pé a comer, sentei-me a comer melancia com sal e um dos rapazes que lá estava ia-me despejando um garrafão de água por cima da cabeça e das pernas, muito obrigado! 
Foram todos excepcionais, impecáveis e incansáveis, para mim são eles o rosto do UTRP.

Final

Quando terminei a sensação foi de dever cumprido, todos os sacrifícios que voluntariamente fiz para treinar, para me levantar cedo, passar horas seguidas debaixo de sol e temperaturas elevadas, fui recompensado com uma prova em que me superei a mim próprio. Fiz 06:45:30 horas, 34º da geral em 133 sendo que só 104 chegaram ao fim, e fiz 16º lugar no escalão em 46 que chegaram ao fim.

Os Ultra trilhos Rocha da Pena, todas as provas, incluindo a caminhada têm de ser planeadas e requerem um mínimo de treino. São condições meteorológicas extremas que mesmo sem correr podem causar problemas de saúde. 
A destacar: 
Pessoas que não usavam protector solar de certeza. Atletas sem um chapéu, boné puff, o que seja na cabeça. 
Ouvi comentários do tipo, ai e tal eu treino mas é sempre com a fresquinha à noite ou de manhãzinha...vais fazer um trail que tem como principal característica ser debaixo de um sol abrasador e não treinas nessas condições???????? 
Atletas que não se hidratam correctamente, Ela e a Rita, na prova dos 25kms perderam 40 minutos a dar assistência a dois atletas com sinais de desidratação severa, alteração do estado de consciência, desorientação no tempo,espaço e pessoa, etc... a hidratação começa pelo menos uma semana antes a ser reforçada, e durante a prova sempre que possível beber,beber e refrescar. Eu devo ter bebido perto de 10 litros de água durante todo o tempo que decorreu desde que me levantei às cinco da manha até que terminei a prova.
A organização faz recomendações e obriga à utilização de um mínimo de material indispensável, e dá as condições mais que necessárias, mas sempre que alguma coisa corre mal são os primeiros a serem responsabilizados e sem culpa nenhuma. Acho que cada um deveria ter o mínimo de consciência e só se aventurar numa prova destas se estiver em condições de a terminar. Eu certamente que não me aventuro para mais nenhuma prova nas condições do Azores Trail Run enquanto não tiver preparado para enfrentar aquelas condições. Até porque uma prova mal preparada poderá dar em problemas sérios de saúde ao atleta mas também problemas aos outros participantes que prestam auxilio, sem falar nas preocupações e nas aventuras em que a organização é colocada para prestar auxilio a todos os demais atletas que se aventuram neste tipo de provas sem qualquer preparação

Para finalizar só nos resta dar os parabéns à organização, o nosso sincero agradecimento! Apesar dos imprevistos que aconteceram conseguiram chegar a todos aqueles que necessitavam do seu auxílio e têm conseguido de ano para ano surpreender-nos pela positiva numa das provas que começa a dar que falar no circuito de trail nacional e internacional! 5***!


Agora é tempo de recuperar, férias da corrida por umas semaninhas, pensar nos objectivos para a próxima época. 

Até já e boas corridas!

quinta-feira, 7 de julho de 2016

A proxima prova

Continua difícil manter o blog atualizado, mas também não tem havido nada para contar de novo. Sendo assim venho hoje falar da próxima prova.

Depois de ter falhado um dos objetivos do ano nos açores, vou agora tentar os 50kms do UTRP (Ultra Trilhos Rocha da Pena), a 7 de agosto.



No ano passado fiz os 25kms que correu mais ou menos como esperado. Por sorte não estava muito calor mas acabei os últimos kms a sofrer com câimbras. E claro acabei com vontade de repetir mas na versão mais longa.

Este ano as coisas têm-se proporcionado para que consiga treinar um pouco mais e apostar em treinos mais longos.
No entanto os objetivos para a prova não são muito ambiciosos pois tenho vindo a fazer um trabalho pós lesão, de recuperação do estado de forma em que estava. Ainda não sinto que esteja a 100%, e o tempo é escasso para conseguir alcançar uma boa forma. Por isso os objetivos para a prova é acima de tudo termina-la e, se possível, entre as 7 e as 8 horas de prova. Mas não quero por em risco o terminar a prova, por isso vai ser sempre a controlar e tentar pelo menos chegar dentro do limite das 13 horas.
Desde a prova dos açores ao utrp vão dois meses por isso são esses dois meses que disponho para treinar em especifico para o UTRP. Não é o ideal mas é o possível. 

A prova tem 50kms com muito sobe e desce e,  se os desejos da organização se concretizarem, será debaixo de um sol abrasador capaz de fritar ovos nas pedras... 


Altimetria da prova

E vendo a altimetria da prova e conhecendo a maioria do percurso até aos 25kms, o que realmente me preocupa será o espaço que vai dos 20kms até aos 42kms, é quase metade da prova num sobe e desce constante que destrói qualquer articulação mal apertada, vai ser um chocalhar de ossos que só visto. Por isso, os primeiros 20 kms têm que ser muito bem pensados e percorridos nas calmas, sem forçar, porque a prova começa ali por volta dos 20 kms quando se atravessa a estrada EN503.  

A partir de hoje vou tentar fazer publicações diárias na página do facebook sobre treinos, alimentação e recuperação até ao dia da prova. Até lá espero conseguir publicar mais um post com mais detalhes da prova.

Até já e boas corrida!

sábado, 4 de junho de 2016

Azores Trail Run



Antes da prova


Começando pelo início, algures lá para o final do ano passado tivemos conhecimento da prova. Pesquisámos e encontramos este video da segunda edição e desde logo ficámos hipnotizados. Eu e Ela fizemos então um jantar com o Filipe e a Rita e ficou decidido que iria-mos tirar férias juntos para conhecer os Açores e fazer o Faial de Costa a Costa 48km.


Os treinos começaram a ser direcionados para este objectivo e tudo correu bem até às 24 Horas Strong Run. Esta deveria ser uma prova teste, com o objetivo de terminar a fase de carga do plano de treino, depois era só afinar alguns pormenores e estava feito o treino. Mas o que realmente aconteceu é que saí lesionado desta prova. O acumular de muitos treinos e kms (foram mais de 300kms em março e 250kms nas primeiras duas semanas de abril incluido a prova), o uso e abuso de calçado inapropriado (sou pronador e pronador severo à esquerda) resultou num síndrome da banda iliotibial, mais conhecido por joelho de correrdor.
Parei vários dias e iniciei tratamento no osteopata mesmo até à ida para os Açores. Resultado, nas seis semanas que antecederam o Azores Trail Run fiz pouco mais de 15 treinos, o mais longo com apenas 12kms. E só nas ultimas 2 semanas consegui correr sem dores. Tive a ultima seção de tratamento no dia antes da partida para os Açores ou seja 4 dias antes da prova.

Objetivos


O objetivo inicial para a prova era desfrutar ao máximo das paisagens da ilha e tentar fazer um top 20 do escalão, com um tempo entre as 05:30h e as 6 horas de prova. Isto tendo em conta os tempos das edições anteriores. Para mim, participar em provas é isso mesmo, é competir com outras pessoas, nas mesmas condições. Ir a provas só para chegar ao fim não faz sentido na minha perspetiva. Por isso é que há provas com classificações e prémios por escalões. Caso contrário corria apenas com o relógio a cronometrar os meus tempos e a superar-me a mim próprio. Mas quando me lesionei mudei radicalmente os objetivos, e passeia a querer apenas chegar ao fim, conseguir fazer a prova toda sem que o joelho me deita-se abaixo. E ía preparado para tentar fazer a prova sem ultrapassar o tempo máximo de 10 horas. Comprei então uns bastões de caminhada para aliviar nas descidas e ajudar nas subidas.


A prova


As previsões meteorológicas para o dia da prova não eram assim tão más e só davam previsão de chuva para o final do dia.

Antes do início da prova, marcada para as 09:30 horas estava tudo a correr bem, uma boa temperatura, mais para o fresco mas sem fazer frio. Não estava a chover, mas o céu estava bastante nublado.

Percurso e altimetria.
O percurso de inicio era sempre a subir até meio, altura em que circundávamos a caldeira e depois predominantemente a descer até ao vulcão dos Capelinhos onde estava situada a meta. O "ex libris" da prova é a passagem pela caldeira central da ilha que é o maior e mais importante vulcão do Faial. Supostamente proporciona vistas magníficas e inesquecíveis. Mas, infelizmente para nós, o local iria estar completamente coberto por um denso nevoeiro.

Partida na hora marcada, com grande festa, muito público a assistir, muitos fotógrafos com grandes máquinas fotográficas, GoPro's, drones, tudo o que temos direito numa prova...
Logo de início fui sempre junto ao Filipe. A Rita deixo de a ver logo desde o início e a Tânia a partir do segundo km.

Aqui ainda ía tudo bem. Com a ilha do Pico em pano de fundo.

Assim que começo a subir a primeira parede utilizo os bastões de caminhada e consigo até um bom andamento a subir sem grande esforço.
A partir do km 8 começa a chover, não é muito mas vai molhando a roupa.
No primeiro abastecimento vestimos os corta-vento que sempre repelem alguma água, no entanto por pouco tempo. 
Após a zona em ziguezague, na ascensão à caldeira, começa a chover com mais intensidade, e à medida que vamos subindo cada vez mais o tempo piora muito e já faz frio.
Quando chegámos ao 2º abastecimento já começo a acusar a falta de treinos, sinto-me cansado e com as pernas pesadas. Fazemos então mais uma paragem demorada para colocar os telemóveis dentro do saco da manta térmica porque na mochila já estavam a ficar molhados.
Quando saímos do abastecimento chove bastante e faz frio e vento. Passamos nesta altura pelos atletas que vão fazer o Trail dos 10 vulcões 21kms.
Assim que subimos para a caldeira começa a fazer imenso vento e não consigo correr em linha reta, pois o vento empurranos de um lado para outro. A chuva a bater na cara parecem agulhas a picar, tal a força do vento. Em menos de 1 km na caldeira perco o Filipe de vista. Começo a ficar com imenso frio, mas guardo sempre a esperança de ser passageiro. Como estamos a 1000 mts acima do nível do mar imagino que quando começar a descer o tempo ficará melhor, e de fato, em algumas zonas o vento acalma, mas depois volta à carga ainda com mais força...O pior é que a chuva não pára e cada fez está mais frio e nevoeiro.

Esta zona da caldeira é caracterizada por ter um tipo de vegetação a que chamam "tufos" (acho que é assim que se chama) que são pequenas elevações de erva e terra mole que ao pisar tem uma consistência "fofinha", mas torna muito difícil a corrida. Temos de tentar encontrar um sítio mais duro para colocar os pés. Saltitamos de um lado para o outro tentando evitar as poças de água e as "minas" de vaca, quase do tamanho dos tufos... tarefa difícil mas não impossível pelo menos até certo ponto. Torna-se até divertido mas de muito difícil progressão.
Mas a chuva não dá tréguas e é quase impossível manter os pés secos. A água acumulada começa a formar pequenos ribeiros de lama com minas de vaca à mistura, sinto que estou literalmente a correr na merda.
A dada altura sigo atrás de uma atleta que do nada fica presa com o pé na lama. Eu, no momento achei aquilo o máximo, tipo uau que cena vou já ajudar a jovem... Mas assim que agarro na perna dela para puxar fico com a minha perna esquerda presa até ao joelho em lama. A lama faz vacúo e quase me arranca a sapatilha do pé quando faço força para tirar a perna, e ao mesmo tempo...CÃIBRA! Começo a ter cãibras cada fez que fico atolado.
A partir daqui é sempre a piorar. Onde era caminho, agora é só lama, os tufos começam a partir quando os pisamos e é fácil cair na lama. Desisto de tentar correr e apenas caminho com a ajuda dos bastões, para não cair. Quando encontro uma zona mais fácil de correr já não consigo porque estou cansado de tanto saltar, escorregar e cair na lama.
A certa altura sou alcançado por Ela. Não estava à espera que me alcança-se, no entanto era algo inevitável pois eu estava a progredir muito devagar. Diz-me que ainda mal parou nos abastecimentos e que está com fome. Pede-me que lhe dê algumas barras energéticas e géis que leva na bolsa de trás da mochila. Pergunta pelo Filipe e segue para a frente a dizer que tem de ir apanhar umas atletas que vão mais à frente... em menos de 1 minuto fico outra vez sozinho, ela vai a correr, eu a andar, e o nevoeiro não deixa ver mais que 200 metros à frente.

O Terreno é só lama e não consigo evitá-la. Facilmente fico atolado até aos joelhos. Por vezes tenho de retirar a perna com as mãos para não ficar sem sapatilhas. E pior, já não distingo a lama das "minas" de vaca...
 - Mas como é que o raio das vacas vêm parar aqui em cima? pergunto a mim próprio!

A determinada altura começam a assobiar e chamar por mim e mais uns atletas que seguiam à minha frente. Olho para trás e vejo que nos tínhamos enganado no percurso. A olhar sempre para o chão e com nevoeiro não nos apercebemos que era para virar numa encruzilhada.
Em certas zonas mais técnicas que tinham algumas subidas ou descidas por pequenos degraus de terra, agora é apenas uma cascata de lama e água, é quase impossível transpor estas partes sozinho e começam a formar-se pequenos grupos para se ajudam nestas zonas.
Começo a tomar consciência do estado em que estou e do perigo que corro. Estamos completamente isolados, não se avistam estradas de acesso ou qualquer membro da organização. Se alguém tem o azar de ficar lesionado nesta zona vai sofrer e muito.
O frio e a chuva é demasiado, gasto mais energia a tremer de frio do que a andar. Aqui e ali há atletas no chão, com cãibras e dores musculares, rodeados de outros atletas a ajudar. Já não consigo parar para ajudar, pois corro o risco de ser eu o próximo a ficar por terra.

Já sabia que ía ser uma prova dura, com grau de dificuldade elevado, mas isto estava a ultrapassar tudo o que tinha imaginado. Uma coisa é ter uma zona de prova mais técnica e difícil, outra é estar à mais de 10 kms atolado em lama, com chuva e frio. Já não tiro qualquer prazer da prova e só quero que acabe depressa. Alguns atletas já caminham enrolados na manta térmica. Quando finalmente chego ao 3º abastecimento estou esgotado, tenho 04:30h de prova e demorei 02:15h para fazer os 10 km que separavam os dois abastecimentos.
Não consigo quase comer por causa do frio, não paro de tremer. Pergunto então a um membro da organização como é o terreno e como está o tempo a partir daqui:
 - É sempre a descer agora, mas o piso está igual, com muita lama e está também a chover lá pra baixo.
Os meus joelhos não vão aguentar a descida. Dou voltas a tentar decidir o que fazer. Não consigo aquecer nada, e acabo por tomar a decisão que na altura me pareceu mais certa. Desligo o relógio com 04:37 horas de prova, e 27 kms percorridos. Abandono a prova porque sinto que já não estou em condições físicas de percorrer mais 20 kms.

Naquele espaço de tempo que estou no abastecimento pelo menos mais 10 atletas abandonaram pelas mesmas razões. No total dos 212 atletas que partiram para a distancia de 48 kms 52 não a terminaram. Nos 70 kms dos 70 atletas apenas 55 chegaram ao fim.

Enrolo-me na manta térmica e colocam-me dentro da ambulância com mais 6 atletas. Dizem-me que estão à espera que venha alguém para nos levar para baixo. Espero quase 1 hora até vir alguém. Um jipe com um rapaz e uma rapariga da organização, que apenas pode transportar 3 atletas. Consigo então um lugar no jipe e sigo com mais 2 atletas para a Horta.
Mas ao fim de 5 minutos a descer, vem alguém a correr em direcção ao jipe e diz que há um atleta preso na lama com hipotermia e que já não consegue andar, tem de ser evacuado rapidamente. Temos então de nos apertar ao máximo dentro do jipe para conseguir entrar mais uma pessoa.
Somos transportados para o hospital da Horta mas recuso-me a fazer ficha, assumo a responsabilidade e abandono o hospital. 
Corro até à casa onde estávamos alojados para tomar um banho e mudar de roupa. Pelo caminho mando sms à Rita ao Filipe e à Tânia a dizer o que se tinha passado mas que estava tudo bem. Apenas a Rita responde a dizer que também tinha abandonado no 1º abastecimento, mas que o Filipe a Tânia continuam em prova.
Tomo banho a correr e sigo de carro até à meta, na outra ponta da ilha a tempo de ver a Tânia e o Filipe chegarem juntos!


O Filipe e a Tânia de mãos dadas a transpor a meta.

Fica aqui o video que consegui fazer durante a prova.


Agora, à distância de quase uma semana é fácil pensar que poderia ter feito melhor, que podia ter tentado arriscar os últimos 20kms. Mas a verdade é que não estava preparado. A falta de treinos não me permitia ir mais longe, as dores no joelho ainda que fracas condicionaram-me psicologicamente e claro afetou a minha maneira de correr, mais resguardado, mais lento e conseguentemente mais tempo exposto à chuva e ao frio sem maneira de aquecer o corpo.
Fica a vontade de lá voltar para fazer a prova de novo e pagar os 20 kms que fiquei a dever. Por isso fica a promessa que se conseguir lá voltar será para fazer os 70kms do Ultra Ilha Azul.

Até já e boas corridas!

domingo, 24 de abril de 2016

24 Horas Strong Run a continuação

Ora então vamos lá a essa aventura que foi correr 24 horas por equipas.

Continuação

Sábado amanheceu com chuva, muita chuva, no entanto as previsões para Loulé diziam que a partir das 16 horas não iria chover mais. Menos mal!
Momentos antes da partida

Chegámos ao local às 14 horas e tratámos das formalidades: levantamento de dorsais e um pequeno briefing sobre a prova, mais especificamente sobre a transmissão do testemunho (uma pulseira feita de velcro). Isto tudo porque teria de ser feita a transmissão dentro de um determinado espaço e seguir depois um procedimento para que não houvessem erros com a marcação de voltas no chip.
Nesta altura, eu pessoalmente, já estava bastante nervoso e facilmente irritável, a ansiedade tomava conta de mim e queria começar logo que possível. 
Como referi no post anterior, a Tânia seria a primeira a correr. Estava calma na linha de partida à hora marcada.
Tiro de partida. Iniciado o relógio das 24 horas.

Tudo bem com as primeiras transmissões de testemunho e tal como planeado a Tânia fez 1 volta (6km), a seguir eu, a Rita, o Filipe e de novo a Tânia até perfazer-mos todos 3 voltas, todos com 1:30h de descanso entre cada volta.
Primeiras 3 voltas num total de 18km, sempre a muito bons ritmos tendo em conta o tipo de percurso e a duração total da prova. Tudo bem como planeado!
Mas, e há sempre um mas, a partir daqui tudo começa a mudar, e de que maneira...

Já era de noite e nas últimas voltas o tempo muda e começa a chover, não é muito mas é o suficiente para ficarmos bem molhados ao fim de uma volta! Logo no momento em que iríamos começar a fazer 4 voltas seguidas!

A Rita no final da sua última volta das três primeiras, na passagem que faz pela zona de controlo já avisa o Filipe para calçar os ténis de trail porque o piso no cerro de Santa Luzia começa a ficar com lama e escorregadio. Entretanto fica também algum frio e nevoeiro que com as luzes dos frontais diminui a visibilidade. 

A Tânia inicia as suas 4 voltas (24km) apenas com 1:30h de descanso, eu iria descansar 3 horas, a Rita 4:30h e o Filipe 6 horas. 
Nessas 3 horas aproveitei para jantar e tentar descansar qualquer coisa. Mas a noite estava de chuva e frio, a tenda não era totalmente impermeável e começava a entrar água, mas acima de tudo, a Tânia estava lá fora a correr , à chuva, no frio, já não havia ninguém nas ruas e fazer quatro voltas devia ser muito mau...por isso preparei alguma comida, água e isotônico e sai para a chuva também para lhe ir dar apoio a cada volta. Apesar de tudo a cada passagem ela parece bem.

Realizando só um pequeno parênteses, o circuito da prova (6km) tinha a forma de um 8, ou seja, partiamos do meio, íamos ao cerro de Santa Lúzia, voltávamos a passar no centro e fazíamos a parte baixa da cidade velha de Loulé, voltando outra vez ao centro. Ou seja, passamos 2 vezes pelo centro (onde se encontrava o controlo de passagem).
Mapa do percurso. Como podem ver na zona das bandeirinhas era a partida e chegada, era a zona de concentração onde passávamos 2 vezes a cada volta ao circuito. 

Na última volta ela diz que lá em cima no cerro o trilho parece "manteiga", escorrega muito, já torceu o pé várias vezes, e está bastante cansada. Está prestes a completar um total de 36 kms!

Por esta altura começo a ir à casa de banho vezes de mais para o meu gosto. O meu sistema digestivo começa a ressentir-se e a mobilidade intestinal aumenta o que me leva à sanita 3 vezes seguidas. E quando volto à tenda para me preparar para ir render a Tânia a Rita diz-me que não está a conseguir comer nada...

Recebo o testemunho da Tânia e em pouco tempo percebo que as pernas já não querem cooperar. No primeiro trilho, um single track, começo a escorregar e opto por correr nos "bordos" do trilho que tem erva e escorrega menos, mas ao fim de 100 metros torço o pé, nada de especial mas é um "abre olhos" para ter cuidado e reduzir o ritmo. Era praticamente impossível correr devidamente, toda a zona de trilho está muito perigosa e as zonas de descida com pedras têm de ser feitas a passo. 
A primeira volta ainda assim não corre mal. Mas assim que inicio a segunda volta, a subir, tenho de parar para andar. O frio aperta cada vez mais e estou encharcado, mas ainda tenho 18km pela frente...Começo a mudar bastante o meu estado de espirito. Dá-se uma transformação, sinto que entro noutra "dimensão". Começo a divagar muito nos pensamentos e perco-me em reflexões existenciais...(aquilo por que passei podia ficar só para mim, mas o blog serve também para fazer a catarse das provas, por isso continuo). Começo a ficar profundamente deprimido, cansado e num estado de melancolia. Sentia que estava a "queimar" todos os meus créditos de corrida. A corrida para mim ía acabar quando a prova acabasse, nunca mais queria correr. Não fazia mais sentido correr, sentia o corpo a reclamar, as articulações estavam a emperrar, os músculos latejavam...Entro num estado de transe tal que na parte baixa da cidade sigo em frente numa rua quando era para ter virado à direita. Por sorte tinha acabado de passar outro atleta que quando me vê ao fundo da rua, grita e chama por mim. Acordo, olho em volta e penso - Onde estou eu? estava a dormir? Continuo, adormeço outra vez e no single track torço o pé outra vez.
 - BOLAS! não se vê nada. 
A subir o cerro encontro pessoal da organização a tirar fotos no meio do nada. Estão a fazer o percurso em sentido contrário e sempre vêm se está tudo bem. Esta zona começa a ficar muito perigosa.
 - BOA, FORÇA! desejam-me sorte, dão-me força, mas não consigo reagir. Vou com os olhos no chão a tentar não cair, inundado pelos meus pensamentos.



Algumas das fotos tiradas durante as minhas 4 voltas. A última espelha bem o estado de transe e medo em que ia.

Começo a pensar na Rita que virá a seguir. Ela não vai conseguir, eu não estou a aguentar, ela vai desistir...Apetece-me chorar, já não consigo correr nas descidas também. Passo na zona central da prova e ninguém reage à minha passagem, estão todos recolhidos, está uma noite boa para estar na caminha, no quentinho.
Era este o cenário à noite. Ninguém a não ser um atleta que acaba a sua volta ou um outro que vai iniciar.
Esta é a zona central do circuito. Ao fundo o portico de partida e chegada. Está dividido ao meio porque se corre para lá e para cá.

Terceira volta, metade já está! Por outro lado, ainda faltam 2 voltas!
Single track, deixa-me lá ver bem que já torci o pé por aqui algures... Mas decido parar antes, preciso aliviar a bexiga, venho com uma sensação estranha à algum tempo. Urino pouco, nada de especial, mas sinto-me aliviado. Sigo, e... zás! torço o pé outra vez.
 - FO.... desta vez fico à rasca. Paro para me apoiar a uma árvore a praguejar e passa um atleta por mim que grita:
 - OBRIGADO! 
 - Obrigado o c......
Contínuo, tenho de continuar. Ao passar de novo na zona da meta a caminho da parte baixa da cidade vejo a Tânia. Tal como eu também ela abdica do descanso para me vir dar abastecimento. No entanto recuso, estou demasiado letárgico. Mas quando volto para cima para entrar na última volta paro para beber um pouco de isotónico e comer meia banana. Ela deseja-me sorte e vai-se deitar. Antes acorda a Rita que me irá render.
Última volta, já não me deixo enganar e não torço o pé, faço todo o single track pela direita o mais devagar possível ainda assim a correr (mais tarde, já de dia, constatei que era uma raiz de árvore que atravessava o carreiro na diagonal). Quando passo mais uma vez pela zona da meta a Rita já está à minha espera. Olho para ela e vejo uma cara triste, de medo, está pálida, os olhos fundos e cavados, só consigo dizer:
  - Vai-te preparando! - que belo incentivo, ah amigo!
Cidade velha. Volto e entrego-lhe o testemunho a fazer um esforço para não chorar de cansado, de alívio, de ter terminado e de compaixão pela Rita que vai ter de passar pela tormenta da noite.
 - Vai com calma Rita, se quiseres podes fazer tudo a andar, não te preocupes. É muito duro!
 - Ainda não comi nada, não consigo, fico nauseada, só me apetece vomitar. Responde. E parte então para as suas 4 voltas.

Regresso à tenda, pego nas coisas para ir tomar um banho para aquecer, tenho as mãos congeladas.
O banho revitaliza-me traz-me de volta à realidade. Tenho fome.
A organização disponibilizou senhas para levantarmos 1 sopa e 1 bifana, vou aproveitar agora e depois vou dormir. Mas quando acabo de tomar banho e vou urinar...castanho, castanho escuro, parece ice tea mas mais escuro. Cai-me tudo, e começo logo a pensar o pior. Acabou, para mim a prova acabou! Regresso à tenda e digo à Tânia o que se está a passar.
 - Acabou! ela diz que acabou a corrida.
 - Calma! vamos esperar, vou hidratar bem agora e ver como me sinto.!
Argumentamos um pouco e acordamos que vamos esperar até amanhecer e esperar a próxima micção para avaliar.
Vou então comer e conto ao Filipe o que se passou. Ele, claro, dá-me na cabeça e diz que devo beber mais água!
Enquanto descanso, agora tenho 5 horas até á próxima volta, o Filipe vai para junto da meta para dizer à Rita o que se está a passar e decidem alterar o planeado. Em vez de fazerem 4 voltas a Rita e depois 4 voltas o Filipe, alteram para 2 voltas a Rita, 2 voltas o Filipe e de novo 2 a Rita e 2 o Filipe até perfazerem as 8 voltas que os dois têm de dar. E assim minimizam o cansaço, não se desgastam tanto e mantêm o ritmo. E claro não correm o risco de desenvolver uma lesão renal ou coisa que o valha.

Conseguem superar a noite os dois. O dia nasce e é tempo de a Tânia se preparar para nova volta, desta vez serão 2 de seguida. Levanto-me também e digo que vou à casa de banho.
 - Fazes para uma garrafa que eu quero ver como está Isac! e frisa bem o meu nome.
 - Ok... eu faço... Vou à casa de banho e encontro o Filipe que tal como eu também já anda com o intestino desregulado.
Vou com o coração a bater rápido, nem ouso o que me está a contar, só quero urinar e ver como está a cor. Ele continua a falar a falar, todo empolgado. Começo a urinar e...normal.
 - Está normal, grito. Filipe olha está normal. Fazemos uma festa. Posso correr.
Regresso à tenda e digo à Tânia que está normal, que o Filipe viu. Ele confirma.
 - Está bem vá, mas BEBE ÁGUA!

O que o Filipe me estava a tentar dizer na casa de banho era que a Rita durante a noite quando acabou as suas 2 primeiras voltas se deixou atrasar no regresso e que quando ele estava a terminar as suas e era suposto passar-lhe o testemunho, ela não estava lá e ele coitado teve de fazer mais uma volta extra.

Entretanto decidimos fazer como a Rita e o Filipe e em vez de fazer-mos 2 voltas cada um num total de 4, vamos fazer 1 volta cada um à vez, até um total de 4 na mesma, mas menos cansativo e assim mantemos o ritmo.  É que ao fim de 15 horas de prova com quase 170 kms estamos em 5º lugar num total de 20 equipas.
Ganhamos todos novo animo, mas só mesmo isso porque o corpo está no limite. Faço as 2 voltas em alternância com a Tânia em piloto automático, passa sem dar por isso, faço os piores tempos, desânimo...

No início tinha apostado com a Tânia que seria capaz de fazer tudo numa média de 5min/km, ela disse que estava maluco, que não tenho treinos para isso. Eu, teimoso, aposto que sou capaz de fazer média de 5min/km e que faço as duas últimas voltas abaixo dos 5min/km. Se ganhar, ganho um frontal que ando a "namorar" mas que é um pouco caro. Ela, se ganhar, dou-lhe um relógio que ela anda a "namorar". Pois...mas nesta altura não me parece que esteja bem para o meu lado, mas também já não quero saber, só quero acabar isto tudo e nem sei se sou capaz.

Ao fim destas 2 voltas vou descansar mais um pouco e consigo pela primeira vez dormir 1 hora. Acordo muito melhor. Saiu da tenda e a Rita já está mais bem disposta, diz que já consegue comer.
Todos nós, cada um com o seu problema, os seus limites, de alguma forma conseguimos ultrapassar o limiar do impossível, do nosso impossível. Fazemos uma travessia para onde pensámos não ser capaz de passar.
Em conversa com outros atletas todos dizem que é muito mais difícil este "pára-arranca" que se fosse de seguida era mais fácil. O parar e saber que ainda se tem de fazer mais uma volta é muito desgastante tanto para o corpo como para a mente. Quando o corpo pensa que vai descansar...bimba mais uma volta!

Estamos em 4º lugar em equilíbrio, ou caímos para sexto ou conseguimos um 3º lugar.
A manhã vai a meio, há uma aula de zumba que traz animação ao local, em breve vai haver um jogo de Rugby no campo mesmo ao lado da meta. O ambiente está bem mais animado. O Filipe está empolgado, começa a estudar uma estratégia, a sua veia competitiva vem ao de cima e acredita mais que todos nós que podemos fazer surpresa.
Ninguém nos tomou como ameaça e agora todos nos olham e comentam. Ouvimos comentários quando passamos, conversas que acabam quando nos aproximamos. Uma equipa mista com 2 mulheres estava em 4º lugar em 20 equipas. 5 são equipas mistas, 12 são masculinas e apenas 3 são femininas.

A partir de agora iríamos fazer 1 volta cada um até ao fim, ou seja, descansava-mos 1:30h entre cada volta, à semelhança do que fizemos de início. A Tânia vai em primeiro. Eu entretanto vou bebendo água e mais água para melhorar a função renal. Quando começo a minha volta sinto-me estranhamente bem, vou arriscar. Aumento o ritmo mas tenho de parar a meio, tenho a bexiga a rebentar. Sigo. Passo na zona central e estão todos a gritar por mim (todos é a Tânia a Rita e o Filipe). Ganho animo extra, olho ao relógio e grito para a Tânia:
 - 4:59min/km de média até agora, a aposta mantém-se ;)
Acabo a volta com média de 4:43min/km. Faltam cerca de 3:30 h para o fim da prova. Estamos em 3º lugar. Temos de dar o máximo, a equipa em 5º lugar vai rapidamente ultrapassar a 4ª que está em quebra e se não nos aplicarmos vai-nos passar também.
Com o tempo que falta só vai dar para fazermos 2 voltas cada um. A Tânia e eu já fizemos uma. O Filipe entretanto troca a ordem com a Rita e vai a seguir a mim.
Com um pouco de sorte ainda temos tempo para uma última volta.

Como disse no início, se faltar 1 segundo que seja para as 24horas ainda podemos sair para uma volta, desde que completada em 30 minutos. Essa volta tem de ser feita por nós para mantermos o 3º lugar, caso contrário caímos para 4º. A equipa que nos segue está a crescer e está a uma volta de nós mas a fazer ritmos muito mais rápidos que os nossos.
Pela ordem que seguimos se tivermos tempo para fazer mais uma volta será a Tânia a fazê-la, mas eu voluntario-me para fazer na vez dela. Sinto-me bem e estou a fazer bons ritmos.
O Filipe começa a acusar algum cansaço mas ainda assim mantém um ritmo muito bom, comprovando que é o elemento mais rápido da equipa. A Rita consegue melhorar bastante em relação ao que fez durante a noite e mantém-nos em jogo.

A Tânia parte então para a sua última e dá tudo o que tem. Quando me passa o testemunho só consigo sentir um orgulho enorme na mulher que tenho.
Estugo o passo mais uma vez porque me sinto bem, mas mais uma vez tenho de parar para urinar.
 - Porra! não bebo mais agua! bebi 1,5l na última hora.
Outra volta abaixo dos 5min/km. Estamos quase, passo o testemunho ao Filipe e dou-lhe força para a sua última volta.
Entretanto a Rita está bem mais animada. Os pais e o irmão vieram dar-nos apoio nesta parte final. Prepara-se então para a sua última volta e perguntamos à organização se há algum problema em o irmão dela a acompanhar na sua última volta.
 - Desde que não passe na zona da meta, tudo bem.
Parte então e o irmão junta-se a ela uns metros à frente. Vai feliz, determinada e o irmão não a vai deixar vacilar, puxa por ela. São 15:10h, faltam 50 minutos e temos de completar 2 voltas. Ela consegue fazer 34 minutos na última volta e faz a sua 3ª melhor volta.
A Rita na sua última volta com o irmão.

Faltam 18 minutos para as 24 horas, só tenho de completar a volta e fazemos 3º lugar. Cerro os dentes, sinto-me forte, sinto-me invencível, imparavél...sinto... sinto...sinto vontade de urinar outra vez!!!?? Fonix! Faço-o quase a correr.
Dou tudo por tudo, já há poucos atletas em prova e quando entro na reta da meta para fazer os últimos 100 metros sou bastante aplaudido, na minha modéstia, sinto-me especial, levanto a cabeça, olho em frente e tenho amigos e conhecidos a chamar por mim, a gritar o meu nome. A Tânia está no fim da meta à minha espera. Corto a meta pela última vez e perfaço os 270 km da equipa em 24:10:22 horas.
Eu na reta da meda na ultima volta.

Sinto uma enorme descarga de adrenalina e não me consigo conter, começo a chorar quando fico cara a cara com a Tânia. Atingi o que não imaginava, atingimos todos os nossos limites e ao invés de desistirmos, insistimos e persistimos, tornamo-nos mais fortes. Colhemos os frutos de muitas horas de treino, de tudo o que abdicamos para fazer aquilo que realmente nos dá prazer.
Não consigo parar de chorar. Beijo a Tânia e digo-lhe entre lágrimas (e um pouco de ranho já):
 - Eu disse que era capaz de fazer abaixo dos 5min/km. Quero o meu frontal! 

Os números da equipa:

3ª classifica entre 20 equipas
45 voltas
24:10:22 horas, tempo de prova
270 kms
05:22min/km média de ritmo

Eu:
12 voltas
05:56:34 horas
72 kms
26:40 min, melhor volta
04:57min/km média de ritmo

Ela:
11 voltas
06:01:53 horas
66 kms
29:46 min, melhor volta
05:29min/km média de ritmo

Rita:
11 voltas
06:46:23 horas
66 kms
30:49 min, melhor volta
06:09min/km

Filipe:
11 voltas
05:22:11
66 kms
26:08 min, melhor volta
04:53min/km

O Pódio

Uma equipa Feliz!
Video oficial da prova!


terça-feira, 19 de abril de 2016

24 Horas Strong Run

O titulo deste post tem exatamente o nome da última prova em que participámos e não podia estar mais de acordo com aquilo que envolveu. Desde a organização, passando por todos aqueles que se aventuraram nesta prova todos foram absolutamente Strong!



Pela dimensão do que foi esta prova achei por bem dividir o relato deste fim de semana em vários posts, que irei publicar em várias vezes.

A decisão de participar


Em finais de maio vamos participar (se tudo correr bem) na 3ª Edição do Azores Trail Run no Trail Ultra Faial Costa a Costa // 48km. Como tal achámos que participar numa prova como a Strong Run seria ideal para nos prepararmos da melhor forma possível. Acontece que esta prova é por equipas de quatro elementos e tínhamos que arranjar mais dois elementos. Como por acaso até temos um casal amigo que vai ao Açores connosco, já não havia volta a dar, iríamos fazer 24 horas a correr!


A prova


A prova consistia em percorrer um circuito com aproximadamente 6 kms com zona de alcatrão, calçada (centro histórico da cidade de Loulé) e trilho (cerro de Santa Luzia), durante 24 horas. A participação é por equipas de 4 elementos podendo ser constituída só por elementos masculinos, só femininos ou mista (que foi o nosso caso). No entanto para efeitos de classificação não havia qualquer distinção (não concordo, e mais à frente justifico). O objetivo seria percorrer o maior número de quilómetros nas 24 horas, sendo que apenas um elemento da equipa pode estar em prova de cada vez. A ordem e o número de vezes que cada atleta faz é livre e ao gosto de cada equipa. Por exemplo, pode um só elemento ficar a correr sozinho durante as 24 horas ou então revezar-se a cada volta de 6 kms. No final, desde que ainda não tenha passado as 24 horas ainda pode sair um atleta para fazer mais uma volta desde que não ultrapasse os 30 minutos ou seja às 23:59:59 horas ainda pode sair um atleta para mais uma volta, mas tinha de a fazer, no máximo, em 30 minutos.


O percurso


O percurso, como já mencionei, tem a distância de aproximadamente 6 kms, e aqui aproveito desde já para deixar os parabéns à organização, pois tinha exatamente essa distância, o que nem sempre acontece e se torna bastante frustrante para os atletas que são confrontados com erros de medição de kms. O circuito incluía uma passagem por uma zona mais de trilho e outra pela centro da cidade de Loulé com muita calçada.

A zona do cerro de Santa Lúzia tinha uma subida daquelas que o nosso amigo Luis Santos gosta de chamar "Ai Mãezinha! Cum caraças!" com quase 1 km que nos deixava KO. Tinha ainda trilho com algumas zonas mais complicadas de descidas e subidas. No total tem +/- 140 mts de D+ com acumulado de desnível de 280 mts.
A parte baixa do percurso no centro de Loulé era de calçada mais antiga, muito irregular com ruelas estreitas e curvas de 90º. Passávamos duas vezes pela zona de partida que tinha sempre pessoal da organização, atletas à espera de começar ou a acabar e a zona de abastecimento. No resto do percurso havia dois postos de controlo para além da zona de partida e chegada que tinha controlo por chip.

Altimetria do percurso



Reação do Filipe à primeira volta ao circuito!

A Equipa


A nossa equipa para além de mim e da Tânia que já conhecem era composta pelo casal Rita e Filipe, nossos amigos e colegas de equipa no Clube Oriental de Pechão (por nosso convite ;) )

Com todos os nossos defeitos e virtudes completámo-nos a 100%, tirando o melhor de cada um e superando-nos ao máximo.
Eu sou mais calculista, gosto de ter tudo planeado ao milésimo e fico amuado desapontado quando as coisas não correm bem. Sou capaz de superar os meus limites para provar que estava certo (a parte da superação só a descobri este fim de semana), e "tenho sempre razão e raramente me engano!" é o meu lema...
A Tânia, como a Rita diz, é uma força da natureza, competitiva e persistente, é capaz de não treinar durante um mês por falta de tempo e mesmo assim manter o nível. Pura fibra e raça! A sua única preocupação  é saber "quanto é que tenho de correr?" e pronto é só dizer e ela faz!
A Rita começou a correr à mais ou menos 2 anos, gosta também de ter tudo bem organizado e programado. Por isso foi nomeada a capitã da equipa. Tem o defeito de nem sempre acreditar nas suas capacidades, mas acredito que vai mudar um pouco depois deste fim de semana. É a mais lamejas  do grupo, a lágrima está sempre no canto do olho.
O Filipe também só começou a correr à mais ou menos dois anos mas já dá o bailinho ao velho (que sou eu). É o velocista da equipa, a nossa máquina de correr. Por ele está sempre tudo bem, é na boa, na descontra, sem problema! No entanto é mais empaxado que uma velhinha no supermercado, minha mãe, o homem leva 1 hora para trocar de meias!

Equipa maravilha!
Eu, Ela, a Rita e o Filipe

Preparativos e logistica


Um bom planeamento e logistíca para este tipo de prova pode e faz toda a diferença, quando corre mal a coisa pode complicar ou então fazer alguém amuar, e muito!!!

Comecemos pelo equipamento. Foi preciso levar uma muda de roupa a contar para cada volta planeada ou seja mais de 10 mudas, incluía roupa interior, t-shirts calções, puffs, etc... mais 3 pares de ténis cada um, corta vento e impermeável (pelo menos 2 cada um), roupa para usar enquanto esperávamos pela nossa vez ou descansava-mos, um cem número de artigos indispensáveis tais como carregadores de relógio GPS e telemóveis, óculos, porta dorsais, frontais, etc, etc... uma mala cada um só com roupa mais uma para ténis, sacos cama e tenda, sim porque tínhamos de ficar lá a dormir, nas imediações do local da prova.
A comida foi toda preparada antes e planeado o que deveríamos comer e quando deveríamos comer. Levámos como refeição principal atum com batata doce, cenouras e ovos cozidos. Depois tínhamos maçãs, bananas, pão sem glúten (nos temos uma dieta sem glúten e tentamos  seguir ao máximo o conceito paleolítico, que num post posterior explicarei os benefícios por nós alcançados) e suplementos à base de proteína. Para além do que tínhamos a organização disponibilizava num posto de abastecimento localizado a meio do percurso, fruta, barras energéticas caseiras, água e isotónico, frutos secos, batatas fritas, etc.

Ainda neste capítulo cabe-me falar do planeamento da estratégia de prova em si. E aqui foi uma dor de cabeça. Saber como nos íamos revezar durante a prova, saber os tempos de descanso de cada um, garantir que todos tinham um período de descanso durante a noite e que todos fizessem também uma parte durante a noite foi do mais complicado e de difícil consenso entre todos. Eu e a Tânia queríamos menos saídas para correr, isto é, queríamos fazer turnos mais longos e dar mais voltas seguidas. No entanto a Rita e o Filipe alegavam que iria ser mais desgastante e preferiam menos voltas de cada vez. No final acabou por prevalecer a opinião do Filipe que planeou que faríamos um período de 1 volta (6kms) cada um até às 22 horas (a prova teve início às 16horas de sábado) ou seja, 1:30h de descanso entre cada volta num total de 3 cada um, seguido de um período de 4 voltas (24kms) cada, até às 06:00h de domingo. Aqui já começava a alternar os períodos de descanso, uns com mais, outros com menos. Depois faríamos outro período em que cada um faria 2 voltas (12kms) e o tempo restante ia-mos alternando uma volta cada. Tirámos à sorte a ordem de saída e ficou acordado que seria a Tânia em primeiro depois eu, a Rita e no final o Filipe. No entanto no dia anterior eu fiquei com a sensação que seria o terceiro e não o segundo a sair para correr, na teoria correríamos o mesmo mas os períodos de descanso alteravam. Eu que gosto de "formatar" e planear o que tenho de fazer fiquei possesso da vida quando soube que era segundo. Lá tive de estudar tudo de novo e me adaptar ao planeado por todos.
Parece fácil mas não é. Quando se começa a ponderar os prós e contras de cada situação torna-se difícil tomar a decisão acertada. Mas acabámos por planear tudo em consenso e sem discussão. No entanto, da teoria à prática vai um longo caminho e durante 24 horas muita coisa pode acontecer, e aconteceu!

Continua...

sábado, 26 de março de 2016

Renascer...?!

Há três anos atrás no dia 26 de março de 2013 fazíamos o primeiro post aqui no blog, iniciávamos uma nova página dedicada à corrida com dicas e partilha de experiências em provas de estrada e trail. Tínhamos também um capítulo dedicado às nossas leituras sobre desporto em geral e corrida em particular. Mas o tempo ou melhor a falta de tempo para dedicar ao blog ditou o fim dos posts no final desse mesmo ano. Ainda houve uma tentativa por parte d´Ela de recomeçar mas acabou em nada...

Mas há algumas semanas que tenho vindo a pensar no blog, e houve mesmo alguns amigos que falaram que gostariam que voltasse-mos a publicar e tal... Como tal, voltei aqui para reler alguns posts antigos, ver como estava a blogosfera e foi então que verifiquei que por coincidência estávamos perto da data da primeira publicação. E não foi preciso mais para decidirmos relançar o blog adormecido, velhinho e cheio de pó.



Não queremos assumir compromissos de publicações muito periódicas até porque o tempo não é muito e queremos apenas manter-nos ativos com partilha de provas realizadas e claro, com o regresso das crónicas sobre os livros que entretanto aumentaram e muito :)

Para quem não nos conhece basta dar uma vista de olhos pelos posts anteriores (do antigamente) e acompanhar o que virá daqui para a frente. Vamos tentar atualizar o mais possível as provas realizadas mas talvez com um formato diferente, até porque estar a colocar provas desde à 3 anos atrás é quase impossível. 

Para terminar, só relembrar que somos totalmente amadores no mundo da corrida, todas as nossas opiniões aqui publicadas são isso mesmo, apenas opiniões e ideias e cada um tem as suas à sua maneira. Por isso se alguém não gosta ou discorda, argumenta e debate, que é mesmo com esse intuito que andamos por cá.

Até já e boas corridas!

terça-feira, 27 de maio de 2014

Novidades :)

Após uma LLLOOOONNNGGGAAAA pausa nos posts é hora de dizer que estamos de volta.

Após uma série de provas, onde se incluiu a nossa estreia na maratona, uma lesão arrastada d'Ele e novidades pelo meio, resolvemos que a ausência foi longa e as novidades muito escassas.

De entre as provas em que participámos, desde o último post sobre as nossas corridas, encontram-se as da seguinte lista (actualizada na página acerca das provas que realizámos):


Distância: 14km
Ela: 01:07:26 min
Ele: 01:04:03 min

45º Prémio dos Reis - Faro - 04.01.2014
Distância: 5650metros
Ela: 00:23:52 min

29ª Meia Maratona da Cidade de Ayamonte - 19.01.2014
Ela - 01:37:03 min
Ele - 01:30:43 min (RP da meia maratona)

1º Cross Ana Dias - 16.02.2014
Ela - 00:21:43 min  Distância: 5200m
Ele - 00:34:25 min Distância: 8300m

Ela -  03:25:24  min (RP da maratona)
Ele - 03:16:59 min (RP da maratona)


5º Grande Prémio do Carnaval de Loulé - 02.03.2014

Distância: 4600m (garmin) oficial: 5400m
Ela: 00:18:46 min
Ele: 00:18:16 min

Ela: 01:34:29 min (RP da meia maratona)
Ele: 01:33:18 min

Distância: 6000m
Ela - 00:25:05 min

Distância: 5000m
Ela: 00:21:27 min (RP dos 5 km )

Ela: 01:35:14 min


Algumas foram estreias em distância e outras estreias de provas e percursos nunca antes realizados.
Atingimos novos recordes pessoais na meia-maratona e fizemos a nossa grande estreia na mítica prova da maratona.

Bem, as peripécias foram várias. A Estreia tornou-se num imenso turbilhão de emoções mas o sentimento final foi de dever cumprido, com tempos nunca antes pensados por nós aquando da realização da inscrição uns meses antes :) (falaremos sobre isso mais tarde).

O que veio depois para Ele não foi o melhor. Arrastou uma pequena lesão que devido ao esforço continuado e aos treinos levaram a uma bursite da coxo-femural com uma trocanterite e uma rotura parcial do glúteo médio. Trocado por "miúdos" deu cabo da nádega direita a valer. Razão pela qual temos estado tão "ausentes" das postagens. Agora com o recomeço do treino por parte d'Ele esperamos que o retorno à leitura e à blogosfera finalmente se dê.

E as vossas corridas/treinos, como têm corrido?

Um até já e boas corridas :)

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Massagem com Gelo

Com tanto empeno seguido e com os treinos sempre fortes que temos tido a utilização do gelo tem sido uma solução muito boa na recuperação, por isso fica aqui a nossa opinião sobre a massagem com gelo.

A utilização do gelo para tratar inflamações e problemas médicos no geral é uma prática milenar e já era utilizada pelos gregos e romanos que aproveitavam o gelo natural no tratamento dos seus pacientes.

Nós como enfermeiros sabemos bem os benefícios da crioterapia (uso terapêutico do frio) principalmente nas lesões do foro músculo-esquelético. O feedback dos pacientes é sempre positivo.

No caso da aplicação de gelo como prevenção de lesões em atletas a prática também nos diz que esta é benéfica. Nós aqui por casa temos por hábito fazer aplicação de água fria no chuveiro após os treinos. 
Mas há algum tempo, quando comecei a ler tudo sobre a maratona e o treino da maratona, deparei-me com este vídeo  e fiquei fã do gelo :)


No video vemos Meb Keflezighi fundista norte-americano medalha de prata na maratona de Atenas 2004 e vencedor da maratona de Nova Iorque em 2009.

Na primeira vez que vi o video procurei logo o aplicador de gelo mas não consegui encontrar em local algum à venda. 

Este é o que se vê no video.
 Como não conseguimos encontrar em lado algum tentámos arranjar algo para substituir e na internet vimos que dá para utilizar um copo de plástico ou de esferovite.

Esta forma é pouco funcional quando o gelo começa a derreter pois cai de dentro do copo, contudo, dá resultado.
No entanto encontramos uma solução bem melhor que o copo de plástico, utilizamos uns copos que temos cá por casa para fazer gelados de gelo, assunto resolvido :)

O nosso "Kit Ice Massage" quando não utilizamos para massagem sempre dá para fazer gelados :))
Sempre que temos um treino mais puxado fazemos a nossa "Ice Massage" e acreditem que é muito bom. Temos obtido bons resultados na recuperação muscular.

Neste tipo de massagem temos de ter em atenção que estamos a utilizar o gelo directamente na pele e, se não tivermos algum cuidado, podem ocorrer queimaduras. Por isso mesmo optámos por fazer a massagem em movimentos circulares alternando as zonas de contacto com o gelo.
A finalidade da crioterapia é baixar a temperatura tecidular e assim reduzir a inflamação e o edema. Isto pode ser feito através da forma liquida (aplicação de água fria), forma gasosa (gazes e sprays que baixam a temperatura) e na forma sólida (com o gelo). Através da massagem directa com gelo beneficiamos da massagem propriamente dita (fazendo alguma pressão no músculo e zonas articulares) para além do gelo ao derreter deixar uma excelente sensação de alívio imediato.

As tradicionais placas de gelo duras ou as maleáveis  (ou mesmo o saco de ervilhas) é mais útil nas articulações onde deixamos ficar algum tempo até reduzir a temperatura.

Por estes e muitos mais motivos aconselho vivamente este tipo de massagem, acreditem que resulta.

Até já e boas corridas!